Querida Ana,
Acordei na manhã de ontem de supetão. Meu marido ligou a TV e disse: acorde você vai querer ver isso.
Quando dei por mim, estava vendo você com um homem a quem você chamava de “apontador de cães”. Logo de cara achei que seria algo como “encantador de cães” e que eu havia ouvido errado. Doce ilusão – meu cérebro ainda estava meio desligado
Acordei e fiquei a postos quando vi a reprise de sua primeira entrevista com o seu “apontador” mostrando como se faz a monta de cães West Highland White Terrier – raça que defendo e protejo com todas as minhas forças. Neste episódio vi que foi feita a cruza de cães de alguém que possuía um macho e que cruzou com alguém que possuía uma fêmea, ou seja, não eram criadores de fato ou pelo menos estava longe da minha concepção de criador.
Mas logo percebi que era bem pior do que eu pensava, ou seja, você ia mostrar em seu programa a cruza em tempo real de bulldogs franceses, que a querida Camilli Chamone protege. E mostrou :(…levantei da cama envergonhada por você, pensando na Camilli, nos criadores idôneos, no trabalho que temos para educar os novos proprietários, de melhorar as raças que protegemos.
Em todos esses anos eu venho acompanhando sua tragetória, desde os tempos de outra emissora. Permito que você entre na minha casa e invada minhas manhãs porque acreditava que você era uma pessoa engajada nas causas sociais verdadeiras – aliás, parabéns pelo alerta da dengue que você fez logo em seguida ao fatídico momento com o apontador de cães.
Mas dessa vez, me desculpe, você errou feio. Dessa vez você caiu no meu conceito e a partir de hoje, quando eu estiver zapeando e me deparar com o seu programa, primeiramente, vou querer saber de qual assunto você está falando, pra assim decidir, se permito que meu filho assista ou não o seu programa. A partir de hoje seu programa entrou para o rol de programas restritos na minha casa. Isso é o mínimo que posso fazer para que meu filho não perca a noção de criação de cães que transmito a ele.
Ana, você deveria visitar um canil sério, conversar com criadores e saber como se faz para melhorar uma raça. Quanto trabalho isso envolve, quantos cuidados são tomados antes de uma cruza. Nos anos que passamos envolvidos com o desenvolvimento de um exemplar novo, analisando seu crescimento, sua conformação. No dinheiro que destinamos, quase sempre sem retorno, para vermos cães melhores nascendo, tanto do ponto de vista da beleza, como do ponto de vista da saúde.
Sabe quantos “nãos” eu digo para pessoas que me procuram em busca de um westie? Para cada filhote que encaminho, faço por baixo umas 03 negativas – ou porque sei que a pessoa não está preparada para um terrier, ou porque vejo que a pessoa não quer um cão de companhia ou porque analiso que a pessoa não tem tempo para um cãozinho. Será que seu funcionário, dono da bulldoguinha “creme” vai saber fazer boas escolhas para seus netos?
Você devia pedir desculpas publicamente em seu programa e, além disso, mostrar a situação de cães que precisam de um lar, nos centros de zoonoses das principais capitais. Mostrar que ninguém precisa aprender a cruzar cães, pois existem peludos para adoção disponível para todos. Por coincidência, no mesmo dia de seu programa, eu recebi a ligação de uma amiga que sabia de alguém querendo doar um casal de labradores e uma filhote fêmea, porque eles iam se mudar para um apartamento. Coincidência estranha né?
Acredite, eu já tive a experiência de levar no veterinário um cão da raça West H W Terrier tomado por doença dermatológica e sem nenhum pêlo no corpo, porque o dono não tinha “tempo” de levá-la ao veterinário. Eram tantos problemas que o veterinário não sabia por onde começar – uma das propostas que recebi foi a eutanásia…sim! Um genuíno westie, fruto de um acasalamento esdrúxulo, onde não se levou em conta as alergias dos pais. E que além disso, foi largado no fundo do quintal e estava tão maltrato a ponto de não ter cura.
A mesma raça que seu “apontador” ajudou a cruzar no episódio anterior.O que? Não acredita no abandono de cães de raça? Lei aqui e pergunte aqui
Ou você acha que todos os cidadãos desses país possuem o dinheiro para oferecer as regalias que você oferece aos seus cães? Ou você acha que todos possuem amigos de posse para doar seus netinhos a fim que eles tenham uma “vida mansa”.
Pense em quantas pessoas agora estão planejando fazer o que o seu “apontador” ensinou? Em todos os lugares, desde aqueles que moram em mansões como aqueles que moram nas favelas – não importa. Quantos irão treinar para ter a mesma profissão do apontador – tal como você sugeriu. Quantos cães serão abandonados depois disso? Eu acompanho o trabalho de recolhimento e realocação de cães abandonados no meu estado e em vários outros – ajudo quando possível. E tenho planos para ajudar mais no futuro. São muitos…quer saber? Pergunte pro assessor aí do seu lado.
Enquanto isso, convido você a ler este texto do Canil Summer Storm e postado pela engajada Camilli Chamone. Mostre ao dono da buldoguinha, que pelo que percebi, trabalha perto de você. Não se coloque numa redoma e nem faça de conta que não está nos ouvindo, eu sei que você é uma pessoa digna e capaz de assumir seus erros e voltar atrás.
Dê um grande passo, castre seus cães – divulgue isso em rede nacional. Sua profissão é apresentadora de programas televisivos. Deixe a criação de cães para quem entende.
Afinal, essas raças lindas e maravilhosas só existem por causa de nosso compromisso com o melhoramento físico e genético destes exemplares.
Desculpe a demora em meu protesto, precisava digerir o que eu assisti ontem!
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