Meu marido, após lamentar sua dor pediu espaço neste bloguinho para deixar seu adeus:
Pedi este espaço a dona do blog para escrever este pequeno post.
Não será um post técnico nem com dicas.Sofremos um grande revez neste domingo, segundo dia de um novo ano. Ano novo este que, nos enchia de planejamentos, de sonhos e de possíveis conquistas. E veio o revez…
Parte do nosso sonho morreu. Nosso filhote, o GIGA, futuro padreador, se foi. Fizemos de tudo para salvá-lo, mas o nosso guerreiro sucumbiu. O nosso alento é que o sofrimento dele acabou..o nosso não..
Serão imagens difíceis de serem apagadas da minha memória, quando você olha pro seu filhote doente e ele lança o olhar pra você, parecendo pedir socorro, suplicando por ajuda, até que no suspiro final, enfim o alívio da sua dor. Foram quase 5 dias de suplícios.
Dói, ainda dói…Olho pra matilha e sinto a falta do GIGA…Da sua elegância, do seu porte e de seus poucos momentos de felicidades… Das brincadeiras com os outros filhotes, querendo e se impondo…Como falam na minha terra natal (Fortaleza) : Botando moral…Seria um líder nato..Mas, o destino quis assim…
De todo sofrimento, nos vem grandes ensinamentos. Ensinamentos que nos fazem ter força pra seguir, pra reativar nossos sonhos…
A matilha segue, o sonho também.Obrigado Aram Kami Albyreos Lyraes (GIGA)!
Fica em paz,
André Luiz Menezes
Agora o meu recado:
Aos Laboratórios Pfizer
Divisão de Saúde Animal
Prezados senhores,
Somos criadores de cães da raça West Highland White Terrier há mais de 4 anos. Para o ano de 2011 planejávamos a renovação do plantel e introdução de uma nova linhagem. Porém, é com muito pesar que enviamos a vosso conhecimento o fato a seguir relatado:
Em 06/12/2010 adquirimos um cão da raça West Highland White Terrier. Este cão foi registrado com o nome de Aram Kami (apelidado de GIGA), nascido em 27/09/2010. Este foi adquirido na expectativa de se tornar padreador em nosso canil e com o sonho de ser apresentado nas pistas de exposições em 2011.
O filhote nos foi entregue com 70 dias, como de praxe, com uma vacina V8 do vosso laboratório aplicada (lote 007/09 – conforme cópia em anexo).
Em 23/12/2010 demos continuidade ao programa de vacinação previsto, porém, aplicamos a vacina V10, também de vosso laboratório, lote 009/010 como conforme anexo. Na data da aplicação o filhote encontrava-se em perfeitas condições clínicas, não apresentando nenhuma contra-indicação para aplicação da referida vacina.
Na data de 24/12/2010 observamos um nódulo no local da aplicação da vacina embaixo da pele do filhote e na data de 27/12/2010 passamos a observar falta de apetite e desânimo do animal, fato que nos levou a procurar orientação veterinária.
Na clínica veterinária, foi realizado um hemograma (em anexo) onde se constatou uma leucopenia e linfopenia de elevada importância clínica, indicando imunossupressão relevante. Em decorrência da pouca idade do filhote, estado clínico e o exame laboratorial citado, deixamos o filhote internado fazendo soroterapia e antibioticoterapia de amplo espectro, conforme orientação veterinária.
Apesar dos cuidados específicos da clínica veterinária e mesmo com o acompanhamento rigoroso pelo veterinário, o filhote evoluiu insatisfatoriamente ficando cada dia mais debilitado e vindo a falecer no 5º dia.
Verificamos que as reações vacinais na clínica veterinária são largamente descritas na literatura. A supressão linfocitária significante verificada em nosso cão após a aplicação de vacinas polivalentes já foi elucidada(12).
Quando utilizamos uma vacina, uma resposta imune inata é desejada, mas respostas inatas não específicas clinicamente evidentes tais como febre, letargia, edema e dor, podem ser consideradas seqüelas indesejadas à vacinação(13).
Estudos também demonstram que os vários componentes da vacina podem agir como potencializadores da resposta imunológica e não seria surpreendente que as exposições exageradas (volume de vacina recebido por kilo de peso corporal) aumentem o risco de reações clínicas focais ou sistêmicas(13,14,15,16).
Para a veterinária Joan Dodds, os sinais clínicos associados a reações vacinais incluem rigidez, dores nas articulações, sensibilidade abdominal, susceptibilidade à infecções, distúrbios neurológicos e encefalite, colapso com auto-aglutinação de glóbulos vermelhos e icterícia (anemia hemolítica auto-imune – AHAI), além de petéquias generalizadas e hemorragia hemolítica (trombocitopenia imunomediada)(1,2,4,5,6,7,8). Cita-se também polineuropatia pós-vacinal como condição reconhecidamente associada com a utilização de vacinas para cinomose, parvovirose, raiva em vários estudos(2,3,5).
Também é sabido que esta última condição pode resultar em atrofia muscular, inibição ou interrupção do controle neuronal de tecidos e órgãos, função de excitação muscular comprometida, falta de coordenação motora, fraqueza e convulsões(5).
Joan Dodds elencou vários estudos e explica que vacinas polivalentes provocam forte desafio antigênico para o animal, porém deveriam desencadear resposta eficaz, que pudesse ser sustentada pelo sistema imunológico do animal(2,3). Entretanto, o que se observa é que estes desafios podem sobrecarregar tanto o animal imunocomprometido, bem como um exército de animais saudáveis(1,2,5,9,10,11).
O desfecho do nosso caso foi no mínimo frustrante, pois executamos todas as exigências em manter nossos filhotes em local seguro até que se termine o programa vacinal, além de fornecermos toda e qualquer assistência que eles necessitem.
As expectativas perdidas foram muitas, desde aquelas inerentes ao amor que sentimos pelos cães, fomos surpreendidos pela dor da morte, pela interrupção de sonhos e planos para 2011 – tudo por força da aplicação de um produto biológico no qual confiávamos.
Os valores monetários envolvidos no ocorrido são calculáveis, porém a dor, a angústia e a impotência frente ao quadro clínico do filhote, juntamente com todas as emoções negativas que envolvem o fato, são imensuráveis.
FONTES:
1. Dodds WJ. Immune-mediated diseases of the blood. Adv Vet Sci Comp Med 1983; 27:163-196.
2. Phillips TR, Jensen JL, Rubino MJ, Yang WC, Schultz RD. Effects on vaccines on the canine immune system. Can J Vet Res 1989; 53: 154-160.
3. Tizard I. Risks associated with use of live vaccines. J Am Vet Med Assoc 1990; 196:1851-1858.
4. Duval D, Giger U. Vaccine-associated immune-mediated hemolytic anemia in the dog. J Vet Int Med 1996;10: 290-295.
5. Dodds WJ. More bumps on the vaccine road. Adv Vet Med 1999; 41: 715-732.
6. HogenEsch H, Azcona-Olivera J, Scott-Moncrieff C, Snyder PW, Glickman LT. Vaccine-induced autoimmunity in the dog. Adv Vet Med 1999; 41:733-744.
7. May C, Hammill J, Bennett, D. Chinese shar pei fever syndrome: A preliminary report. Vet Rec 1992;131: 586-587.
8. Scott-Moncrieff JC, Snyder PW, Glickman LT, Davis EL, Felsburg PJ. Systemic necrotizing vasculitis in nine young beagles. J Am Vet Med Assoc 1992; 201: 1553-1558.
9. Dodds WJ. Estimating disease prevalence with health surveys and genetic screening. Adv Vet Sci Comp Med 1995; 39: 29-96.
10. Day MJ, Penhale WJ. Immune-mediated disease in the old English sheepdog. Res Vet Sci 1992; 53: 87-92.
11. Dougherty SA, Center SA. Juvenile onset polyarthritis in Akitas. J Am Vet Med Assoc 1991; 198: 849-855.
12. Phillips, TR, Jensen JL, et al. Effects od Vaccines on the Canine Immune System. Can J Vet Res 1989; 53: 154-160.
13. Moore GE and Hogen EH. Adverse Vaccinal Events in Dogs and Cats Vet Clin Small Animals, 2010; 40: 393–407.
14. Moore GE, Guptill LF, Ward MP, et al. Adverse events diagnosed within three days of vaccine administration in dogs. J Am Vet Med Assoc 2005;227(7):1102–8.
15. Starr RM. Reaction rate in cats vaccinated with a new controlled-titer feline panleukopenia-rhinotracheitis-calicivirus-Chlamydia psittaci vaccine. Cornell Vet 1993;83(4):311–23.
16. Moore GE, DeSantis-Kerr AC, Guptill LF, et al. Adverse events after vaccine administration in cats: 2,560 cases (2002–2005). J Am Vet Med Assoc 2007; 231(1):94–100.
“Os verdadeiros criadores são o coração e a alma do mundo da cinofilia. Eles perduram orgulhosos e muitas vezes sozinhos, resistindo o comércio, irredutíveis em sua procura pelo perfeccionismo e idealismo em seu código de ética.” Peggy Adamson, 1969.
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Olá,
também tive uma triste passagem esta semana. Perdi minha staffordshire bull terrier após vacinar com a Dectupla Vanguard da Pfizer. Ela faleceu em virtude de uma encefalite pós-vacinal, sindrome aguda com alta taxa de mortalidade associada com alterações comportamentais, agressividade, convulsões e cegueira que surgem após a vacinação. Essa sindrome é atribuida à alteração inadequada de vírus em determinados lotes de vacinas multivalentes.O prejuízo material foi enorme, mas a perda maior ainda. Abraços,
Ai, Gustavo, quando li sua história fiquei com meu coração partido! Eu sei o que você está passando. O sentimento de impotência diante da situação toma conta de nosso ser, né? Chorei copiosamente por dias, me perguntando porque decidi dar aquela vacina no meu pequeno. Se você tem seu veterinário do seu lado, peça um laudo, mande um cópia para eles, faça pelo menos eles saberem que fizeram mais uma vítima e deixaram mais um coração órfão de um cão, mencione este post – uma hora quem sabe a gente vai ser ouvido! A Sylvia Angélido do site cachorro verde, sempre questionou esses exageros nas vacinas de nossos bichos, inclusive estamos aguardando o artigo do trabalho final dela. Hoje, meu esquema vacinal é mais brando, prefiro assim, enfim, embora tarde demais, mas o meu Giga me deixou um legado, gigante como ele, de conhecimento!
A Pfizer respondeu o email? Fiquei curiosa para saber o que alegariam…
Sim eles responderam, em tese, só faltaram dizer que eu era maluca e que o que eu afirmava estava longe de ser possível. Eu vou procurar a resposta deles e vou postar aqui!
Oi Andie,
A Pfizer depois de uma calorosa discussão por email deixou claro que nao haveria chance de provar relação com a morte e a vacina. Na época nao sabia desse risco e nao fiz um laudo. Também como ter cabeça. A Rebecca foi uma cachorra que custou grande investimento. Uma Staff única e que até hj da saudade. Lamentável um laboratorio desse porte e nível econômico tratar com tanta indiferença o caso narrado. Se quer falaram em dar um outro filhote. O ressarcimento nao seria igual, nem no campo afetivo quanto material. Os remédios e internações davam para comprar uma ninhada de Staff. Uma coisa e certa muitos outros já sofreram isso e nem sabem que perdem por causa da vacina. Lutar com essa turma e complicado. Pensei em entrar na justiça, mas sei que seria perda de tempo.
Gustavo, toda vez que leio relatos como o seu, eu me sinto pequena diante da indústria. Eu sou farmacêutica de formação e sei o que a indústria é capaz de fazer.
Eu também fiquei como você: pensativa, duvidosa…gastar dinheiro com advogados e lutar contra a indústria? E se eu ganhasse? Não apagaria da minha memória o sofrimento que vivi ao lado daquele cãozinho, inocente, incapaz! Chorei por dias a fio. Pela perda, pela luta em vão que o vi travar, pelo sentimento de incapacidade que tomou conta de mim de não ter conseguido salvá-lo.
Mas, nesses anos de vida aprendi que: de tudo devemos tirar uma lição, principalmente quando perdemos. A minha lição foi o legado de informação. Só pra escrever esse post eu fiquei dois dias enfiada na biblioteca da faculdade de medicina, lendo artigos, revisando protocolos vacinais do mundo inteiro.
A lição que aprendi foi Gigante, o legado de conhecimento que meu Giga me deixou foi imensurável. Hoje, sem nenhum medo, eu faço um protocolo de vacinas brando nos meus filhotes. Mas não sei se consigo passar adiante o que vivi, pois muitos profissionais provavelmente me taxam de maluca por manter meus bebes a salvo dos “perigos biológicos”, que eles consideram inócuos …
Temo que ainda terão que morrer muitos Gigas e muitas Rebeccas para que as pessoas acreditem na nossa história 🙁
Muito obrigada por compartilhar seu relato, sua dor. Muito obrigada mesmo! Eu sei o quanto difícil remexer nessas lembranças. Eu mesmo ainda choro com o meu terror ;(
Mas, se com nossa dor, nós tocarmos ao menos um profissional ou um dono sequer, já colecionaremos um grande feito!
Para entender mais sobre vacinas e do que estamos falando, leia aqui: http://www.cachorroverde.com.br/index.php/category/outrosassuntos/vacinacao-outrosassuntos/