A palavra alergia deriva ALLOS (outro) e ERGON (energia) e foi introduzida pela primeira vez em 1905 pelo pediatra austríaco Clemens Von Piquet (1874-1924), para designar uma manifestação clínica.
Costumo dizer, de uma forma bem metafórica, que o sistema imunológico é como um guarda meio burro. Na minha versão, esse guarda verifica a identificação de todos os “indivíduos” que entram em contato com o corpo, seja ele um medicamento, um ácaro ou qualquer outra substância.
Na minha história, esse guarda pergunta: hum…quem é você? Então se ele ouve: eu sou o medicamento para verme. Vim parar aqui num comprimido branco, por exemplo. Ele responde: ahh tá, não conheço você. Mas pode passar!
Num outro momento, esse mesmo guardinha encontra novamente o “indivíduo”, que dessa vez responde: sou aquele medicamento pra verme. Vim parar aqui num comprimido branco. Aí ele responde: ahh é mesmo, já conheço você, mas não gosto de você de jeito nenhum. Pronto! Está garantida a “guerra imunológica da alergia”.
É claro que essa é uma história muito simplificada do processo alérgico que pode ocorrer em diferentes níveis, devido ao fato de ser mediado por diferentes tipos de anticorpos e de células do sistema imunológico.
Um processo alérgico poderá ocorrer tanto no primeiro contato (mais raras) – como se o guardinha não gostasse do indivíduo invasor logo de cara. Ou pode ocorrer numa segunda exposição (mais freqüente) como na historinha contada. Ao invasor damos o nome de alérgeno, ou seja, causador da alergia.
É claro que uma substância só se tornará um alérgeno se for “reconhecida” pelo sistema imunológico. Isso quer dizer que ao invés de dizermos “que o organismo não processa, não entende ou não reconhece aquele produto e por isso o rejeita” devemos dizer que ele “reconhece aquele produto como um potencial causador de problemas” .
Em uma publicação sobre revisão de nomenclaturas para alergias encontrei uma revisão muito interessante sobre os termos e palavras comumente usadas pelo seu médico veterinário para explicar um quadro alérgico.
ALERGIA: é uma reação do organismo que se apresenta como uma hipersensibilidade. Essa reação é iniciada pelo sistema imunológico, havendo participação de anticorpos e de células. Ela se inicia com a liberação pelo organismo de uma substância química chamada histamina.
ANTICORCORPOS: são tipos de proteínas produzidas pelo organismo que atuam no processo de reconhecimento das substâncias invasoras. Eles podem ser do tipo IgE ou IgG.
Fonte: Penn Medicine |
ALÉRGENOS: são os pedaços de substâncias reconhecidas pelos anticorpos. Elas são também chamadas de antígenos. Muitos alérgenos que reagem com os anticorpos IgE e IgG também são proteínas, e para isso precisam ter um tamanho, peso e forma ideal para ser reconhecido. Assim, muitos estudos afirmam que proteínas de baixo peso molecular raramente são referidos como alérgenos. É como se eles fossem muito pequenos para serem vistos pelos guardinhas!
Fonte: Penn Medicine |
ATOPIA: é uma tendência pessoal ou familiar, que ocorre freqüente na infância e na adolescência onde o indivíduo fica sensibilizado e produz o anticorpo IgE em resposta a uma exposição alérgênica. Como conseqüência, estes indivíduos podem desenvolver sintomas característicos de asma, rinoconjuntivite ou eczema (inflamação na pele).
Os termos “atopia” e “atópico” devem ser reservados a descrever o indivíduo que possui a resposta IgE aumentada quando é exposto a certo alérgeno quando a maioria dos indivíduos normalmente não produzem uma resposta prolongada IgE mediada.
Assim, só devemos afirmar que um indivíduo é atópico quando se comprova produção de altos níveis de IgE. Não se deve usar o termo quando não há existência de tal anticorpo no soro ou por testes cutâneos positivos para IgE.
HIPERSENSIBILIDADE: este termo refere-se à causa de todos os sinais ou sintomas apresentados depois da exposição ao estímulo alérgico, que normalmente seria tolerado pelos indivíduos normais. Esses sintomas geralmente são iniciados com a liberação da histamina.
Fonte: Penn Medicine |
HIPERSENSIBILIDADE NÃO ALÉRGICA: é o termo preferido para descrever hipersensibilidade, na qual não é possível demonstrar a presença de mecanismos imunológicos.
PSEUDO-ALERGIA: É bem parecida com alergia, mas não apresenta reação antígeno-anticorpo. É o que acontece com os aditivos alimentares, tais como: conservantes, corantes, palatabilizantes etc, que são capazes de liberar mediadores inflamatórios dos mastócitos (células) diretamente. É difícil distinguir da verdadeira alergia alimentar.
A pseudo-alergia, alergia símile ou “allergylike” é um tipo de reação adversa a alimentos que pode explicar as reações provocadas pelos aditivos alimentares. Numa sociedade industrializada, existem atualmente uma série de substâncias que são utilizadas maciçamente nos alimentos, tanto para consumo humano quanto animal e que podem desencadear o quadro pseudo-alérgico.
Nos próximos post iremos abordar as alergias caninas, que muito acometem nossos Westies. Pra quem não sabe, alergias é um dos grandes problemas da raça .
FONTE:
Johansson SGO, Bieber T, Dahl R, Friedmann PS, Lanier BQ, Lockey RF et al,. Revised nomenclature for allergy for global use: Report of the Nomenclature Review Committee of the World Allergy Organization, October 2003. Allergy Clin Immunol 2004; 113: 832-36.