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Dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP)

Quais doenças de pele que mais ocorrem nos cães?

Um dos primeiros e mais conhecidos sobre as doenças de pele em cães foi realizado nos Estados Unidos1. Foi um estudo retrospectivo feito pelo Veterinary Medical Data Program(VMDP), que é um banco de dados de escolas veterinárias norte-americanas. As dez doenças de pele que mais ocorriam em cães nos EUA, em ordem decrescente de freqüência, foram: dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP), tumores, pioderma bacteriano, seborréia, alergias (todas menos DAPP), sarna demodécica, sarna sarcóptica, dermatoses imunomediadas, dermatoses endócrinas e dermatite acral por lambedura.

Em Portugal, as doenças de pele que mais ocorrem em cães são DAPP, seguida de angioedema e urticária, da dermatite alérgica e da hipersensibilidade alimentar, afetando os animais mais jovens, pertencentes às raças SRD, Labrador Retriever e Pastor Alemão.No geral, no Brasil, as 10 principais dermatopatias não-tumorais (atopia, dermatite alérgica à picada de pulga, foliculite bacteriana superficial, sarna demodécica, foliculite bacteriana profunda/furunculose, sarna sarcóptica, miíase, alergia alimentar, dermatite piotraumática e malassezíase) perfazem juntas aproximadamente 75% de todas as doenças de pele de cães diagnosticadas neste estudo16. Esse achado reforça a idéia corrente de que poucas doenças de pele são responsáveis pela maior parte dos atendimentos dermatológicos.


Dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP)

Nos estudos percebe-se uma diferenças na ocorrência da DAPP por região estudada2. Nos EUA, foram encontrados 42,3%, sendo que em outros estudos há ocorrências de 7,0%3 e 3,7%4. Na França a DAPP é a segunda causa mais comum das doenças de pele, perdendo apenas para a dermatite atópica.21

Esta variação de percentual de ocorrência com a DAPP também é verificada quando se compara estudos americanos, demonstrando diferentes níveis de ocorrência nas regiões dos EUA. Essa variação pode estar ligada à diferenças climáticas, que fazem da pulga um ectoparasita variavelmente prevalente de acordo com o grau de umidade e temperatura1.

Em um estudo feito em Lima, no Peru, com 37.408 cães, o autor concluiu que 5,3% destes tinham uma doença dermatológica e destas, 16,36% era DAPP. Da população atingida, mais de 50% eram animais de raça pura e tinham entre 1 a 7 anos. Sua freqüência foi maior no sexo masculino18.

No Brasil, temos dados do Rio Grande do Sul, os únicos dados epidemiológicos disponíveis sobre a ocorrência da DAPP mostram um percentual de 28,0%5,6. Em outro estudo no mesmo Estado a DAPP teve um percentual de ocorrência de 16,5%17.

Mas como vive uma pulga?

Pulgas são responsáveis pela produção e transmissão de várias doenças em humanos e seus animais domésticos. A pulga mais comum é Ctenocephalides canis e C. felis felis7. A pulga passa por quatro estágios no seu ciclo de vida: ovos, larvas, pupa e fase adulta8. Seu ciclo de vida pode durar de 12 a 174 dias e depende da temperatura ambiente e da humidade9 – fato já demonstrado nas diferencias de ocorrência da doença. As condições ideais são 70% de umidade relativa e 36oC8,10.

A larva se alimenta de restos orgânicos e do sangue de pulgas adultas. As larvas são fotofóbicas (se escondem da luz) e geostáticas (se movimentam em direção ao solo) 8,10. Assim, em ambientes fechados vão se movimentar sob os móveis, utensílios domésticos e entre as fibras de carpete. Em ambientes abertos, elas se dirigem para áreas de sombras sob arbustos, árvores e folhas. Se expostas por mais de 40h a temperaturas acima de 35oC e abaixo de 3oC, as larvas não sobrevivem, porém seu casulo pode servir de proteção aos inseticidas9.

A fase pré-adulta da larva prolonga a vida da pulga que pode viver mais 140 dias protegidas no seu casulo. As pulgas emergidas vivem de 10 a 60 dias, dependendo da umidade e temperatura14.

No animal, a pulga se torna um parasita se alimentando do seu sangue. A saliva da pulga é injetada como se fosse uma espécie de anticoagulante para facilitar a sucção do sangue. 72 pulgas consomem 1mL de sangue por dia12.Surprised smile

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Pulga (neste caso, Ctenocephalides sp.) sobre a pelagem. FONTE: SOUSA, 200917
Uma pulga deposita de 40 a 50 ovos por dia na fase máxima, depois mantendo uma média de 27 ovos/dia pelos primeiros 50 dias. Uma pulga fêmea pode depositar aproximadamente 2000 ovos durante sua vida10,13.A saliva da pulga contém aminoácidos, compostos aromáticos, materiais fluorescentes, polipeptídeos e fósforo que são os potenciais alérgenos causadores da alergia à picada da pulga15.Surprised smile
Os principais sinais notados pelo dono do cão são a coceira contínua, acompanhada de lambedura e mordida nas áreas de alcance. 61% dos cães alérgicos à pulgas desenvolvem sinais clínicos entre 1 e 3 anos de idade16, sendo comum em cães menores de 6 meses.
Com o avanço da idade, e exposição contínua às pulgas, o grau de hipersensibilidade pode diminuir.As lesões apresentam pápulas, crostas, manchas de saliva, escoriações, e eritema (pele vermelha) em forma de cunha na região do dorso (triângulo da Flórida), coxas, região próxima ao rabo, região abdominal e em volta do umbigo.
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Dermatite alérgica à picada de pulga. Pele; região lombossacra. Hipotricose e eritema difusos acentuados. A lesão é triangular (“triângulo da Flórida”). FONTE: SOUSA, 200917
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Dermatite alérgica à picada de pulga. Pele; região lombossacra e dorso. Hipotricose e liquenificação difusas acentuadas. FONTE: SOUSA, 200917
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Dermatite alérgica à picada de pulga. Pele; região lombossacra, períneo e membros pélvicos (face medial). Alopecia, liquenificação, hiperpigmentação e descamação difusas acentuadas. Pregueamento da pele decorrente da intensa liquenificação. FONTE: SOUSA, 200917

Segundo a Dra. Cibele Mazzei da Dermatopet, a coceira sentida pelo cão é contínua. Dentre as alergias, esta é a mais freqüente em nosso país e isto ocorre devido às condições climáticas favoráveis à procriação deste inseto, havendo uma grande incidência desta alergia nos meses mais quentes. Com a coceira crônica as áreas se tornam sem pêlos (alopécia), liquenificadas e hiperpigmentadas e o cão desenvolve um odor relacionado à infecções secundárias por bactérias e fungos.A dermatóloga explica que existem várias maneiras de controlar esse problema, desde “anticoncepcionais para pulgas”, dados ao cão e ao gato por via oral, até pulicidas dotados de prolongada ação residual. Em casos graves há necessidade de tratamento com medicamentos antialérgicos.

Os objetivos do controle de pulgas são eliminar as pulgas adultas em todos os animais da casa tanto quanto pulgas imaturas no ambiente. O mais importante, contudo, é combater as formas intermediárias deste inseto no ambiente, através de inseticidas apropriados19.

O melhor método abrange medidas mecânicas, físicas e químicas de limpeza do ambiente, principalmente nos pontos de origem, assim, os carpetes e áreas de repouso deste na casa devem ser muito bem aspiradas usando um aspirador potente. A cama do animal deve ser lavada19.Existe uma grande variedade de produtos químicos que podem ser usados no ambiente e nos animais e cada um tem sua indicação específica. Há opções de produtos naturais também. Não existe nenhum produto único ou miraculosoSad smile, após o diagnóstico, converse com seu veterinário sobre os produtos e suas ações residuais. Use somente os produtos prescritos nas quantidades indicadas para evitar um problema de intoxicação de seu peludo. E lembre-se, concentre sua limpeza nas áreas mais freqüentadas pelo animal, áreas de sombra e temperatura amenaWinking smile

  1. Sischo, W. M.; Ihrke, P. J.; Franti, C. E. Regional distribution of ten skin diseases in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 195, p. 752-756, 1989
  2. Fernandes, Marcos Eduardo. Alergia alimentar em cães. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Dissertação de Mestrado, 2005
  3. Hill P. B. et al. Survey of the prevalence, diagnosis and treatment of dermatological conditions in small animals in general practice. Veterinary Record, v. 158, p. 533-539, 2006.
  4. Scott, D. W.; Paradis, M. A survey of canine and feline skin disorders seen in a university practice: Small Animal Clinic, University of Montréal, Saint-Hyacinthe, Québec (1987-1988). The Canadian Veterinary Journal, v. 31, p. 830-835, 1990.
  5. Machado, M. L. S.; Appelt, C. E.; Ferreiro, L. Dermatófitos e leveduras isolados da pele de cães com dermatopatias diversas. Acta Scientiae Veterinariae, v. 32, p. 225-232, 2004.
  6. Bianchi, S. P. et al. Atendimentos realizados no ano de 2007 no Serviço de Dermatologia do Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS. In: ANAIS DO 35º CONBRAVET, 2008, Gramado, RS. Anais eletrônico. Gramado: Conbravet, 2008. Disponível em: http://www.sovergs.com.br/conbravet2008.
  7. Harman DW, Halliwell REW, et al. Flea species from dogs and cats in north-central Florida. Vet Parasitol 1987;23:135-40
  8. Dryden MW. Biology of fleas of dogs and cats. Comp Cont Ed 1993;15:569-579
  9. Silverman J, Rust MK. Some abiotic factors affecting the survival of the cat flea, Ctenocephalides felis (Siphonaptera:Pulicidae). Environ Entomol 1983;12:490-5
  10. Dryden MW. Biology of the cat flea, Ctenocephalides felis felis. Comp Anim Prac 1989;19:23-7
  11. Kettle DS. Siphonaptera (fleas). In: Medical and veterinary entomology. New York:Wiley, 1982:293-312
  12. Dryden MW, Gaafar SM. Blood consumption by the cat flea, Ctenocephalides felis (Siphonaptera:Pulicidae). J Med Entomol 1991;29:394- 400
  13. Dryden MW. Host association, on-host longevity and egg production of Ctenocephalides felis felis. Vet Parasitol 1989;34:117-22
  14. Silverman J, Rust MK. Extended longevity of the pre-emerged adult cat flea (Siphonaptera:Pulicidae) and factors stimulating emergence from the pupal cocoon. Ann Entomol Soc Am 1985;78:763-8
  15. Young JD, et al. Allergy to flea bites. V. Preliminary results of fractionation, characterization, and assay for allergy activity of material derived from the oral secretion of the cat flea, Ctenocephalides felis felis (Bouche). Exp Parasitol 1963;13:143-54
  16. Halliwell REW. Clinical and immunological aspects of allergic skin disease in domestic animals. In: Advances in veterinary dermatology. London:Bailliere Tindall, 1990;1:106-12
  17. Souza, Tatiana Mello de. Dermatopatias não-tumorais em cães: bases para o diagnóstico e dados de prevalência em Santa Maria, Rio Grande Do Sul (2005-2008). Universidade Federal de Santa Maria: tese de doutorado, 2009.
  18. Soriano, Rubén Mallaopoma . Frecuencia de dermatitis alérgica por picadura de pulga en caninos (Canis familiaris) atendidos en la Clínica de Animales Menores de la Facultad de Medicina Veterinaria – Universidad Nacional Mayor de San Marcos: estudio clínico, período 2000-2004. Lima, Peru, 2006.
  19. Candace A. Sousa, DVM. Fleas, flea allergy, and flea control, a review. Dermatology Online Journal, vol. 3, no. 2, 1997
  20. Silva, Sílvia; Peneda, Sara; Cruz, Rita; Vala, Helena. Estudo casuístico de dermatites por reacção de hipersensibilidade em cães e gatos. RPCV, no. 104, vol. 569-572, 2009, p. 45-5
  21. Prélaud, P. Dermatite atopique canine. EMC – Vétérinaire, vol 2, 2005, p.14-29

Andréia Camargo

Criadora de west desde 2006.

Comportamentalista, Groommer e Designer.

0 resposta

  1. Olá, muito boa a matéria…

    Gostaria de saber o que devo fazer para amenizar a coçeira??!!
    Meu bichinho não está com pulga, porém sua alergia está muito feia, as vezes melhora depois piora td de novo…
    Se puder me responder por email ficarei muito grata.

    Obrigada e Parabéns

    1. Oi Andreia,
      Usar produtos para minimizar os parasitas no ambiente ajuda bastante. Peça ajuda ao seu veterinário para saber como proceder para exterminar as pulgas do ambiente sem prejudicar seu dog.
      Um abraço,

  2. Ola! Meu westie esta com pulgas e mtas feridinhas, usei revolution e nao saiu nada agora frontline spray e nada de melhorar!! Eles podem usar a coleira anti pulgas? ou sera forte e pode fazer mau para ele? Me ajude nenhum remedio funcionou e agora estamos tentando a coleira! Sera que tem problema?

    1. Oi Vanessa,

      95% das pulgas estão no ambiente, eclodindo e reinfestando seu animal. É necessário uma limpeza específica no ambiente para exterminá-las. Já foi feita?

      Se não houver a limpeza com produtos específicos pra pulgas, aspirador de pó e descarte do saco do aspirador de pó, nada feito. Com o tempo elas voltam a eclodir e reinfestar.

      Aqui abusamos dos métodos naturais e da limpeza do ambiente: homeopatia, óleo de neem (tb serve pro ambiente) e alho cru na alimentação natural. Tem funcionado.

      Converse com seu veterinário.

      Um abraço,

      Andie

  3. Olá Andie!

    Estava lendo os posts acima e gostaria de dizer que eu já fiz uma grande limpeza na casa, no sofá, nas roupas, em todos os lugares que tu puderes imaginar. Usei o Revolution na minha cachorrinha e ela continua na mesma, talvez até pior. Ela se coça e se lambe o tempo todo, o pelo dela está todo falhado e cheio de cascas soltas. Eu sinceramente não sei mais o que fazer! Fico desesperada vendo ela nesse estado e o veterinário diz apenas o que tu disseste.

    1. Oi Adriana,
      Não lembro de termos conversado :/ … mas sei que as vezes é necessário uma limpeza profissional, específica para pulgas. Acho ainda que está na hora de você procurar um veterinário dermatologista. Quem sabe ele não encontra soluções que não estão descritas aqui?

  4. Olá Andie,
    Adorei o texto! Meu Maltês está com esses sintomas, muitos pontinhos pretos e irritação no dorso, ânus, na região abdominal e patas. A veterinária dele disse que o problema era um possível hipotireoidismo (porque ele está com alopecia e tem outros sintomas relacionados), e que as doenças de pele são consequência disso tudo. No entanto, ele é muito alérgico e imagino que seja mesmo DAPP. O que você acha?
    Obrigada pela atenção.

    1. Oi Paula,
      Infelizmente eu não posso te ajudar nesse sentido. Mesmo que eu fosse veterinária, uma opinião dada à distância, sem uma anamenese correta, exames clínicos e complementares, seria no mínimo uma falta de ética descabida. Uma DAPP é problema bem correiqueiro e imagino que seu veterinário tenha pensado na possibilidade. Um bom anti-pulgas sistêmico, desses que dura pelo menos um mês, é parte do tratamento. Se seu cão está coberto por um antipulgas e permanece doente, algo nos diz que não é DAPP não é mesmo? No mais, um abraço e obrigada por visitar o site 😉

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