Quero começar esse post com uma pergunta: você já teve a experiência de conhecer alguém que descreve o seu cão como “pacífico e gente boa” e quando você foi ver de perto, o cão é territorialista, do estilo “não levo desaforo pra casa”? Sim? Pois acredite, isso é muito comum.
Muitas vezes me questiono porque as pessoas erram tanto em descrever seus cães? Teriam eles dupla personalidade? Ou alguns seres humanos possuem realmente dificuldade de “entender” o comportamento canino?
Lembro que antes de decidir criar cães, eu também tinha certa dificuldade, porém, com o tempo, fui aprimorando minhas observações e, óbvio, aumentando meu conhecimento literário sobre o assunto.
Uma das coisas que me auxiliou nesse contexto foi ler sobre a origem dos cães. Lembro que isso me fez entender, e muito, a relação genuína que temos com eles.
Por isso, resolvi escrever uma série de posts e falar sobre essas teorias das origens e domesticação canina – quem sabe assim, compartilho com você um pouco do entendimento que tenho dessa relação.
Claro que existem muitas teorias e datas não comprovadas em muitos textos sobre o assunto, algumas mais aceitáveis, outras mais controversas. Por isso, procurei fazer um texto mais brando, sem o compromisso acadêmico de datas e comprovações históricas…deixo esses fatos para os cientistas de plantão!
A Origem dos Cães
A teoria mais difundida sobre a origem do cão reporta que há sessenta milhões de anos, onde um animal parecido com os cães surgiu na América do Norte1. Explica-se que esse animal se chamava miacis e parecia uma fuinha, tinha pernas curtas, era pelado e escalava árvores2.
Miacis foi responsável pela geração dos felinos, dos ursos e da família Canidae, que inclui lobos, raposas, chacais e coiotes. Muitos afirmam que, do lobo cinzento, surgiram todos os cães conhecidos atualmente, desde o pequenino chihuauhua ao Wolfhound Irlandês, o maior cão do mundo. Mas, apesar da variabilidade de porte, os cães possuem os 39 pares de cromossomos idênticos.
Para o jornalista Dagomi Marquenzi2, se pudéssemos fazer um comparativo e se entre os humanos houvesse essa variabilidade de tamanho, o menor dos homens pesaria dez quilos e o maior deles chegaria a pesar toneladas.
A família Canidae é composta por 37 espécies, porém somente o lobo e o chacal são considerados antepassados do cão doméstico.
Esse último, por sua vez é talvez o mais antigo animal domesticado pelo ser humano. Teorias postulam que o lobo cinzento surgiu no continente asiático há mais de 20 mil anos.
Na Ásia, esse lobo escolheu viver próximo dos humanos3. Foi uma aliança estratégica: homens e cães sabiam caçar, e cães – por instinto – tinham muito mais capacidade de defender o território. Homens faziam fogo para se aquecer e cozinhar, cães se aqueciam e se alimentavam dos restos2.
Dessa forma, a grande variedade de cães existentes hoje, começou a ser forjada nestes primeiros contatos com o homem2 e com o tempo, o cão passou a ter seus cruzamentos controlados pelo homem que, por sua vez, selecionou as características que lhe agradava.
As primeiras seleções do fenótipo canino ocorreram em terras chinesas, onde os cães começaram a ter seu tamanho e sua aparência moldados pelo homem, bem como suas habilidades de caça, pastoreio, guarda e defesa selecionadas3.
Nos últimos 200 a 300 anos essa variabilidade fenotípica foi se estabelecendo e sendo classificada em diferentes grupos ou categorias – atualmente, são mais de 400 raças de cães reconhecidas pelas entidades cinófilas.
Aqueles que não são classificados em nenhuma dessas categorias recebem a designação de vira-lata ou cães sem raça definida (SRD). Aos cães provenientes de duas categorias de raças diferentes, dá se a denominação de cão mestiço.
No próximo post falarei sobre a teoria da domesticacão canina.
FONTES:
1. TORGUI, De. Manual Prático do Criador de Cães. [trad.] Torrieri Guimarães. SP: Hemus, p. 253, 2004.
2. MARQUENZI, Dagomi. Algo de novo no reino dos humanos. Revista Galileu, ed. 197, dez, p. 41-53, 2007.
3. FOGLE, Bruce. Guia Ilustrado Zahar: cães. [trad.] Bianca Bold. RJ: Jorge Zahar Ed., 2009.