Para a maioria dos autores a melhor opção de tratamento é a terapia comportamental e modificação do ambiente juntamente com uso de fármacos1,3,4
Mas a terapia comportamental possui um prazo para apresentar resultados positivos na redução dos sintomas dos problemas comportamentais dos nossos peludos. Nos casos graves, o uso de medicamentos leva vantagem. Os medicamentos reduzem em até 3 meses o tempo de tratamento e diminui o nível de ansiedade do cão favorecendo a resposta à terapia comportamental. Isso estimula os proprietários a manterem o tratamento1,2
Os estudos demonstram que a melhora quanto à destruição ocorreu em mais de 50% dos cães nos primeiros três meses da terapia comportamental2, porém a vontade ou condições de implementar programas completos de terapia comportamental pelos donos é a maior dificuldade do tratamento, porque os programas exigem tempo e disciplina dos proprietários4.
Ilustração do livro Adestramento inteligente – Alexandre Rossi.
Juntos, proprietários e adestradores comportamentalistas deveriam traçar estratégias e executá-las em conjunto. Porém, o grande problema é que os proprietários, por estarem investindo financeiramente, acabam por achar que apenas algumas horas de adestramentro por semana serão suficientes para tratar todos os males e esquecem de cumprir as estratégias traçadas quando o comportamentalista não está por perto.
Sabe-se que o envolvimento emocional do proprietário também é fator de influência o tratamento, afinal o hiper vínculo foi criado por reforço deste proprietário – ele também necessita do cão para repor algum tipo de carência pessoal. Quebrar o vínculo excessivo é um processo traumático para o cão e também para o dono – muitas vezes mais traumático para os humanos que para os cães. Para estes proprietários, ignorar seu amado cão é um processo extremamente difícil para eles5.
Já outros, quando não mais suportam os devios de comportamento canino e na busca de uma solução imediata recorrem a atitudes extremas, mas que não trazem benefício nenhum ao tratamento, tais como uso de coleiras de choque anti-latido e confinamento do animal em gradil. As duas medidas aumentam significativamente o estresse do animal.
Modificação Comportamental
Outras alternativas podem ajudar bastante, como por exemplo, deixar o cão com outra pessoa ou inscrevê-lo em locais de recreação canina5 – neste caso os peludos convivem com outra rotina e aprendem socializar com outros animais, ou seja, passam por novos estímulos físicos e mentais.
Muitos cães com desvios de comportamento associam rapidamente seus apelos a uma reação do dono, por exemplo, o cão choraminga e ganha um pedaçado de pão, ou mais comum, torçe o nariz para o prato de ração e ganha comida na boca, destrói um rolo de papel higiênico e ganha uma bronca em tom de voz doce.
Dono: “não faça mais isso seu cachorrinho feio blá blá blá” – Cão: “noooossa, esse cara me ama!” Ilustração do livro Adestramento inteligente de Alexandre Rossi
Esses cães podem exibir o comportamento indesejado para chamar a atenção do proprietário – nestes casos a bronca pode ser entendida pelo cão como um ato de carinho. Conviver com outros cães, em novos locais, dessensibiliza o cão dessas associações inadequados, porém, ainda requer a mudança de atitude dos donos nesses quesitos.
Aumento nas atividades
Ilustração do livro Adestramento inteligente – Alexandre Rossi
Durante a terapia comportamental, os proprietários são encorajados a passarem mais tempo com seus cães em atividades estruturais que proveem exercício, companhia e desafios mentais para cão. Exercícios de obediência, treinamento, caminhadas de forma correta, busca por objetos, interação com outros cães, são atividades úteis apropriadas a esta meta1.
Outras técnicas, tais como dessensibilização, habituação, contra-condicionamento, introdução de exercícios físicos, principalmente, sessões frequentes de exercícios exigem da mente e do físico, possuem um efeito calmante, reduzindo a ansiedade e proporcionam interação social adequada ao cão3.
Educação do Proprietário
Ilustração do livro Adestramento inteligente – Alexandre Rossi
Quando os clientes se tornam conscientes dos desvios de comportamento e percebem com clareza os problemas, a probabilidade de eliminá-los é grande. Saber qual problema eliminar, qual apenas reduzir e qual não têm probabilidade de ser modificado, faz o tratamento começar a dar certo. Nesse momento, contratar profissionais competentes e ler sobre o assunto, faz uma diferença muito grande.
Quando eu questiono o nível de conhecimento sobre o comportamento canino aos muitos proprietários que me relatam os comportamentos “inadequados” de seus cães, percebo que existe um grande déficit no conhecimento por parte deles e grande maioria nunca leu um livro sobre o assunto!
Num estudo realizado no Brasil afirmou que os proprietários percebem os desvios de comportamentos de forma equivocada – associam os sinais à pirraça. Porém, mesmo assim, percebem o impacto na sua qualidade de vida, porque um pouco mais de 50% deles buscou recursos para não deixar seus cães sozinhos em casa6.
Criar cães não é o mesmo que criar filhos – lembre-se: eles não são humanos e nunca serão! Infelizmente, muitos proprietários confundem isso. Portanto, munir-se de informações sobre o mundo canino é essencial.
Um livro que eu gosto e que explica cientificamente o comportamento canino é o livro de Alexandra Horowitz, Inside of a dog – traduzido para português sob o título “A cabeça do cachorro”. Nele Alexandra justifica algumas atitudes típicas dos cães relacionando-os a estudos científicos confiáveis e quebrando alguns paradigmas que temos em relação ao comportamento canino divulgado até recentemente.
Mas, o livro de Alexandra é avançado, e talvez seja enfadonho para quem não entendende absolutamente nada de compostamento animal. Para os principiantes, vamos dizer assim …rsrsrs, há livros mais diretos e de leitura mais rápida. Considero de grande valia a lista abaixo, nessa ordem de importância:
- Adestramento inteligente – Alexandre Rossi
- Entenda o seu cão – Bruce Fogle.
- Como Fazer seu Cachorro Feliz – Andréa Mchugh
- O Encantador de Cães – Cesar Millan
- Cães educados, donos felizes – Cesar Millan
Muitos comportamentalistas vão me crucificar pela inclusão do César Millan na minha lista, mas, de todos os livros que eu li, o único que se preocupa em descrever a energia que devemos demontrar à nossos cães e reforça a quantidade de exercício e disciplina que devemos dispor a eles, é César Millan! Aliás em seu livro ele não descreve nenhum truque e muito menos ensina façanhas absurdas.
Uma vez que a família está estiver bem informada sobre a situação e sobre as opções de tratamento, podem então tratar ou conviver amigavelmente com o problema, contornando os comportamentos mais absurdos. Porém, mesmo com toda a informação disponível, é lamentável que alguns ainda decidem doar ou sacrificar o animal – no meu ver, a segunda escolha é bem lastimável3 e, o que mais me entristece nesses casos, é a incapacidade desses humanos em admitirem sua culpa na criação do problema.
Bem, agora que você já sabe que, como parte do tratamento, precisa envolver seu cão em atividades mentais e físicas, no próximo post vamos falar de atividades esportivas com os cães.
FONTES:
1. HORWITZ, D.F. Diagnosis and treatment of canine separation anxiety and the use of clomipramine hydrochloride (Clomicalm), J Am Anim Hosp Assoc, vol. 36, p. 107-109, 2000
2. KING, J.N., et al. Treatment of separation anxiety in dogs with clomipramine: results from a prospective, randomized, double-blind, placebo-controlled, parallel-group, multicenter clinical trial. Applied Animal Behaviour Science, abril, vol. 67, no 4, p. 255-275, 2000
3. LANDSBERG, Gary M., HUNTHAUSEN, W and ACKERMAN, Laurence. Problemas Comportamentais do Cão e do Gato. São Paulo: Roca, 492 p., 2004
4. TAKEUCHI, Y, et al. Differences in background and outcome of three behavioral problems of dogs, Applied Animal Behaviour Science, vol. 70, no 4, p. 297-308, 2001
5. BEAVER, B.V. Comportamento canino: um guia para veterinários. São Paulo: Roca, 431 p. 2004
6. SOARES, Guilherme Marques; PEREIRA, João Telhado & PAIXÃO, Rita Leal.Estudo exploratório da síndrome de ansiedade de separação em cães de apartamento, Ciência Rural, Santa Maria, v.40, n.3, p.548-553, mar, 2010