Bem, às vezes as pessoas me escrevem para fazer perguntas. Nem sempre sei por onde começar a responder. Algumas respostas dependem de minha opinião sobre algum assunto pessoal. E, quase sempre, não eu estou disposta a opinar!
Pois bem, essa semana uma das perguntas foi: “posso comprar um Westie de um cruzamento cujo o pai não tem pedigree?” …bem, a resposta certa é: eu não sei. Tecnicamente, nada impede a pessoa de adquirir um cão assim ou assado, já que cada um deve seguir sua própria sentença.
Ao mesmo tempo, minha consciência, que não me abandona, me faz pensar: porque eles se preocupam tanto com o pedigree? Na verdade, percebo que as pessoas sequer sabem para que ele serve. A questão não é ter ou não um papel pra provar que o cão é ou não daquela raça!
A questão é outra. A questão é saber: o criador fez um levantamento do histórico de saúde dos pais? Se algum deles apresentar uma doença genética? Vai avisar pra quem? Vai recorrer a quem para analisar os possíveis impactos da doença na linha de sangue?
Sim, para isso o pedigree é importante. Para que o criador saiba escolher bem um cruzamento. Para que ele saiba onde os parentes estão se cruzando nesse acasamento, e claro, evite cruzamentos inseguros. Com a ajuda das informações de um pedigree podemos calcular o Ancestor Loss Coefficient e além disso, como eu já disse, saber informações sobre os prêmios dos pais e avós. Se algo errado acontecer, um criador correto vai informar os outros criadores daquela árvore.
Repito: pedigree não é atestado de beleza e nem certificado de saúde. É apenas uma árvore genealógica descrita. O que você faz com as informações dele é que é o x da questão.
Bem, para mostrar como, mesmo com todos os cuidados, não estamos imunes, trago a história de Thayana Magalhães Andrade, criadora de Terrier Brasileiro. Na história dela você vai entender como doenças genéticas ocorrem ao acaso, até nos casos mais bem pensados e planejados.
Aproveito para parabenizar a criadora pela coragem de relatar tornando pública a sua experiência e sua dor. Muitos no lugar dela ficariam quietinhos, e outros, passariam os cães que parecem ser saudáveis adiante, sem fazer exames e até, sem relatar nada aos novos proprietários. Enfim. Se isso acontece numa criação planejada, imagina naquelas em que as pessoas nem sabem a origem dos cães?
Há 30 dias nasceu na minha casa a ninhada que eu acreditava ser a minha ninhada mais promissora, filha da minha Mult Ch Lupa QE do Alvorada DF e o Bibo do Terra de Vera Cruz neto de dois campeões mundiais, Pinguim do Taboao e Pipo II do Terra de Vera Cruz, a ninhada que sonhei e fiz planos, a ninhada que eu e muitos outros criadores imaginavam ser a melhor que eu poderia fazer.
Há 21 dias eu estava postando fotos deles e maravilhada com os meus filhotes, lindos e começando a andar, umas bolas gordinhas e fofas. Uns focinhos muito curtos e dobradinhos que eu achava lindo. Com 23 dias me deparei com um filhote mamando com pé dobrado. Peguei nele, e o pé era tortinho, parecia quebrado ao meio, fiquei triste, e depois olhei os outros e descobri outro com pé torto. Nessa hora já começava a me desesperar com o possível problema de má formação ou que a Lupa pudesse ter pisado neles e quebrado aquelas patinhas. No dia seguinte comecei a pesquisar e me lembrei da osteogêneses imperfeita (MPS) , mesmo quase descartando aquilo resolvi ler um pouco e então aquele focinho super curto com os olhos um pouco mais separados que o normal com stop muito bem marcado não eram mais tão lindos assim, os dois filhotes com perninha mole tinham a cara do filhote afetado pela doença que aparece nesse vídeo:Mas é lógico que eu não queria acreditar naquilo e coloquei isso como ultima opção, com toda minha certeza de que eram apenas patinhas quebradas. Na segunda feira a tarde liguei para o melhor radiologista de cães de Niterói, com seu aparelho móvel digital importado, e ele podia vir na minha casa para eu não tirar os filhotes de perto da mãe. Na segunda-feira mesmo fizemos os raio x e ele simplesmente paralisado em frente a tela me disse: ”Thayana esses filhotes não tem nenhuma epífise no corpo.” A epífise é como um ossinho de ligamento entre um osso e outro. Inclusive o osso que faz a ligação entre as vértebras da coluna dos cães . Nessa hora eu entrei em choque pois a falta ou atrofiamento das epífises era exatamente o que eu tinha lido sobre a MPS na noite anterior, assim os filhotes em breve não andariam pois hoje com 25 dias eles andam tortos mas andam, porém a medida que vão crescendo os poucos ossos que eles tem, não vão mais sustentar o peso do corpinho deles, e eles se arrastarão sem conseguir andar e sofrerão com isso.
Sendo assim a falta das epífises é mais que suficiente para diagnosticar um filhote com a doença genética. Eu tenho plena certeza de que não sou a primeira e nem serei a ultima a passar por isso, sei que existem pessoas que realmente falam a verdade e que realmente nunca tiveram casos da doença mas também existem aqueles que mesmo já tendo problemas fazem questão de dizer ”eu nunca tive isso no meu canil ”. É muito mais fácil a gente correr do problema, escondê-lo ou simplesmente não tentar desvenda-lo por medo de descobrir o que é. Também é normal do ser humano a negação e não acredito que aquilo pode acontecer realmente. Mas eu Thayana prefiro vir aqui e dar a cara a tapa e mostrar que essa maldita doença genética onde o pai e a mãe OBRIGATORIAMENTE precisam ser portares da doença para gerar um filhote doente, existe e está presente entre os nossos cães.
A ninhada da Lupa são 5 filhotes onde 2 são afetados e 3 são normais. Esses 3 normais eles podem ser completamente livres da doença ou podem ser apenas portadores. Esses 3 filhotes normais pretendo levar o sangue para Finlândia (único lugar que faz exame para doença de uma raça BRASILEIRA) para examina-los assim como o João Batista (criador da Lupa) faz questão de que a Lupa seja testada e caso eles sejam portadores serão castrados e se forem livres podem seguir para criação pois se depender deles NUNCA passarão a doença. Sendo assim também pretendo testar todos os meus outros cães porque jamais quero passar por isso de novo e fazer algum filhote indefeso passar. Vim aqui contar isso a todos pois me sinto obrigada a dividir com vocês para o bem da nossa raça, para que nos a partir de hoje passemos a ser mais responsáveis quando se trata de um cruzamento e não apenas fazer por fazer. Eu pretendo correr atrás de algum laboratório ou faculdade que possa desenvolver o teste para a doença no Brasil, pois realmente mandar o sangue para fora não é barato. Precisamos selecionar saúde antes de beleza, não vamos querer para o nosso brasileirinho tenha o mesmo destino dos Bulldogs Ingleses. Pois sempre defendemos a raça como rústica, já temos vários cães com problemas de pele, cães com luxação de patela, cães com displasia e agora com MPS. Onde vamos parar?
E você ai, pensando que criar cães era a coisa mais fácil do mundo né?
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Muito esclarecedor o texto! São extamente essas, as dúvidas que tenho sobre o “papel” do pedigree.
Abraços!